Vermelho

Posted: sexta-feira, 31 de julho de 2009


Pulsam tédios
Nas veias adormecidas
Sangue e vida esperam
Partidas na chegada
Da primavera
Adentrando artérias


para Cíntia

OFERENDAS

Posted: sexta-feira, 10 de julho de 2009




OFERENDAS

Por Cíntia Thomé

Sou canoa na sua cama
Rendas, cheiros, incensos...
Ofereço boa vinda, agradeço.
Dançando no seu mar, seu corpo;
Percorro todas as extremidades de suas águas
A deriva... Vou aos sonhos
Igarapés ou vitórias-régias
Suas ondas caudalosas
Derrubam espumas
Em minha tímida escuna
Delírios molhados escorrem.
Meu leme, minha mão é uma flor:
Esparramando pétalas e polens
Perfumes da vida, arrepios aos toques.
Sou barco a navegar, sensível ao seu balanço
Ancoro em seus braços
Espasmos nas ondas
Com fé, creio em ti...
Como rumo certeiro d'alma
Trarás das suas profundezas
Pérolas secretas,
Estrelas do mar
Simples palavras
Em sua boca...
Concha aberta
Juras de Amor,
Amor!
Do Amor
O Maior...
Da Criação .
.
Cíntia Thomé




.

Ciclo

Posted:
Vem seguindo trilhas negras
De betume e roxas de terra
Vermelhas de piçarra e sangue
Vida a dentro, casa a fora
Pernas e braços no mundo
Que percorre e abraça

Deixa amores
Traz texturas, temores
Seca humores e agruras
Deixa vidas, cria outras
Vara o país com rumo
Incerto e desejado norte
Guardando o Norte em seu cofre
Peito sem saída
Acumula o mundo

Ensina de onde vem
Aprende pra onde vem
Ciclo

O horizonte no fim do asfalto
Outra linha atrás
Meta à frente dos olhos
Na vontade do retorno
Meta é ponto de partida
Vai-se para voltar melhor
Ciclo

©Marcos Pontes

Zona de Escape

Posted: segunda-feira, 6 de julho de 2009


Caso não haja mais tempo
congele todo sal grosso
que porventura foi exposto
e partilhe os provimentos

Caso não surja oportunidade
desligue todos os interruptores
avise os fornecedores
se livre das ambigüidades

Caso não se torne mais necessário
exorcize cada um dos pecados
apague todos os recados
desligue o ar dos templários

Caso não retorne tão breve
tire os dedos do gatilho
segure a arma, à mão leve
deixe que se vá o andarilho

Caso não suporte mais o baque
passe a tranca na dispensa
aperte o laço do lacre
e vá atrás da recompensa

Caso não tope a parada
crie a possibilidade de sangue
feche o cadeado da escada
esvazie o lastro estanque

Caso não possa mais nada
desative o código do alarme
corra junto à manada
respire fundo e desarme...

Caso nada disso adiante
peneire a sujeira do trigo
persiga todo seu desplante
e mais uma vez, engula o perigo

Caso não haja mais...

©joebrazuca - MMIX -sp/sp/br

Espiral

Posted: sábado, 4 de julho de 2009
Espiral

Não existe caminho fora daqui
Mesmo que seja um espiral
Voltado para o umbigo

Volta-se em torno de si
Curvilinha bumerangue que só volta
Arremessada contra a própria
E em si se cruza
Bifurcação da mesma linha

Não há caminho dentro daqui
O externo é o interior e é o mesmo
Caixa cheia da própria caixa
Vazia da caixa mesma

A vida e a caixa
A vida pulsa na caixa
Os caminhos da vida
São a própria caixa
A duração da caixa é a vida
Simbiose abstrata

Não há caixa fora daqui
Encerrada na vida e na caixa
As soluções e os caminhos
Bifurcações que retornam à vida
Dentro da caixa
Cíclica e espiralada linha

A linha bumerangue
Rechicoteia nas paredes da vida
Cai no piso da caixa
Sobre as soluções catadas
Cacos juntinhos, mosaico
De vida, caminhos, vida e caixa

©Marcos Pontes

TANGO OU VALSA, UM VINHO

Posted: quarta-feira, 1 de julho de 2009


TANGO OU VALSA, UM VINHO
De Cintia Thome


Num canto seu casaco
Noutro taças
Espalhadas pérolas
Um colar arrebenta
Ouvem-se tilintares
Em descompasso
Junto aos corpos colados
Em dança
Uma salsa,
Ou um tango em Paris
Mas aqui
Acolhe-me em asas
Laça-me, enlaça-me
Cheira-me como fêmea
Morde-me faminto
E sinto
Frenético bailado
Dentro de mim
Desabrocha-me
Em vinhos
Molhados
Colhe-me em sedas
Acolhe-me cansado
Arfando, afanando
Beijos sem pudor
o meu sorriso e meu calor
Aqui ou em Paris
O que sempre quis
Corações embevecidos em valsa
Pele, sua pele
Pele, minha pele
O amor maior
adormecendo entre nós
roçando-nos
úmido
em silêncio


cintia thome



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