ACREDITE

Posted: quarta-feira, 10 de novembro de 2010


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ACREDITE EM MIM

Acredite em mim
Uma única vez,
Olhe com meu olhar como te olhei
Meus pés na chuva e que dancei
No sol que partiu minha pele
Na andança das nuvens
No copo que quebrei
Acredite em mim
No disco que arranhei
Nas fotografias que rasguei
Nos olhos que furei
Nos cabelos que arranquei
Acredite em mim
Na mata que fucei,
Nas notícias sem você
Nas rosas que sangrei,
Nos dias que me perdi
Acredite em mim
Nos maços de cigarro que amassei
Nas pontas dos lápis que não cessaram
Nos papéis no lixo que joguei,
Nas paredes grandes retratos
Acredite em mim
No som de minha voz
Cansada de implorar, cansada
Aos santos, rosários, deuses, a você
A cabala desgovernada
Nos revoltos mares
No vento que me destruiu
Acredite em mim
Nas lágrimas, encharcado travesseiro
Nos lençóis menstruados
Na carne viva de mim
Acredite em mim
Nas horas que perdi, nos livros a nossa estória
No cortar dos pulsos de cada novo dia
No grito do aborto, no grito da morte
Nos fins...
Acredite em mim
Frases feitas não disseram nada
Louca, atrevida nua fiquei
Acredite em mim
Não diga que não viajei
Não quebre meus sonhos
Não quebre outra vez...
Dizendo que não te amei
Coragem...
Acredite em mim
Acredite em mim

CINTIA THOMÉ

1983/REFEITO 2008

ABRAÇO

Posted: sexta-feira, 1 de outubro de 2010


ABRAÇO



Ah alento, que alento
Que alimento esse sentimento
Por que fostes? Por que fostes?
Correndo, correndo
Às gargalhadas ao sol daquele momento
Entre as acácias e chorões
Ah que alento, que alento
A lembrança do abraço
Do vai e vem de teus braços
Brinca, brinca
Ria, ria e aquele abraço
Dentro da minha lembrança
nada mais é tão bonito
Do que aquele jardim
Meu paraíso de mãe
de uma rosa desabrochando
Um beija-flor beijoqueiro
Porque não? Porque não?
Te ver assim olhando
O céu azulado, a ciranda de estrelas
e rias apontando ser uma delas
Qual seria? Qual seria?
E rias, rias
Ah alento, que alento
Sem lamento, mas contentamento
ser ponta estelar de uma delas
Porque há o dedo, há o dedo
A tocar o meu sorrindo
Com todo amor
Com todo amor
Sempre correndo


Cíntia Thomé















Mother and Child - Sculptor: Tessa Hawkes

CANÇÃO DE LUZ

Posted: sexta-feira, 3 de setembro de 2010







Flow(er) Me
Flow(er) Me
Flow(er) Me


CANÇÃO DE LUZ

Vem, resgata o tempo
Coloca a mão em meu ventre
Expurguei você na tristeza
Por direito de adormecer em esquecimento
Para os cavalos das posses transitórias
Passarem, passarem... Queimados estão
Estarão aos gritos em pecado animal
guerras do próprio mal

Aproxime-se cheio de sangue
Com a mesma cara de feto, o início
Do olho no olho, Amor
Da mesma cor tão vermelha
Venha à terra que chegaste
Como primeiro viajante
Não a poeira que te comeu os pés
a cruel e vã centelha

Ressurja verde com seus lírios
Seu sorriso branco cheio da inocência
Entre seus olhos pequenos
O terceiro olho que rege o destino
Sua brisa moldando meu rosto risonho

Amor como quiser chegue
Reparta o coração desse peito
Latejante, soluço da alma
Suje de sangue, sangre derrame
A entrada da vida... de todas as coxas

Rasgue em gozos fálicos
Tudo que assim sou feita
Entre as chorosas gotas
Do suor de uma vida plena conduzida
E tantas idas, a uma seca ferida

Deixe queimar, morrer seus garfos
Que te feriram e que vieram a ferir-te
Não há mais poda, nem navalha suicida
O passado foi ilusão canalha, falha
O poder da soberba desvairado oxida

Há o jogo das flores aqui
Dentro da seiva líquida,
das veias encharcadas de mar
dentro de mim, descuidado jardim
Ao relento, ao suave vento
De minha pele na sua, o amar
Roce a minha rama à sua asa
Dê arrepios, dance em mim
Mate todas as desgraças que tens

Venha à graça, a revolução
A manifestação do encontro sem palavra
Aquela canção de luz sem fim, evolução
Quando voas farfalhando suas asas
No céu de todas as minhas bocas

Assim seria o direito, a plenitude
De meu corpo, essa cidade
Cansada, caiada de fantasmas
Explodindo jardins azuis em régia flor
à quase face fria, uma parede d’água
Da lágrima amiúde

Rompa os meus e seus muros
Traga delírios, rebrotem lírios assim
Só nossos círios da paz
Da verdade humana, flamantes urros
Da verdade sem condenação
De existir sem nada atrás
Sem a lambida fúria serpenteando
A maldade torpe
E nossos corpos em chamas
Transmutando desejo

O Amor maior, nossa cama
sem nada atrás
Só nossos círios da paz
E a dança...
e tudo que é mais


Cíntia Thomé

2009



...Há o jogo das flores aqui
Dentro da seiva líquida,
das veias encharcadas de mar
dentro de mim...


Flow(er) Me
Flow(er) Me
Flow(er) Me

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Não posso adiar para outro século
a minha vida nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
.

António Ramos Rosa in 'Adiar'(POETA PORTUGUES)









......

Plantar

Posted: sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Arei os sonhos com as unhas
Abri valas
Semeei com urros
Reguei com suor.

Brotaram dias e noites e dias
Noites e dias de sol e ar
Dias e noites de brisa e chuva

Vidinha que cresce verduenga
Viçosa vida que rasga robusta
o solo barroso e vinga

A estrada

Posted: segunda-feira, 26 de julho de 2010
Não se espera a caça cair
Caça-se

          Sibila a seta
          Acerta o alvo

Busca-se a certeza do acerto
Sem se esperar o milagre.
Faz-se o caminho
Pedras não se nivelam sozinhas
          A estrada não nasce
          É construída no suor.
          Pode ser forte e torpe
          Reta, precisa, plana
          À feição das mãos que traçam

Picada aberta em mata
Via larga com horizonte
Pinguela estreita sem fim
Avenida de quatro vias
Arte, trabalho e traço
Sem acaso
         
          Não é presente o caminho
          É obra e ciência
          Labuta, sangue e foco
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