
ANIBAL BEÇA, LAMENTOS
As arvores amazonenses
curvam-se
As que sobram
As águas se encontram em festival
O branco e o negro
Peixes pululam e beijam-se
Chove aqui
O muro de Sampa chora
Concreto e ferida
Sem o poder... com toda a razão
Sem que eu possa tocar,
dar adeus amigo Poeta
De um lado da parede,
o reflexo de toda poesia
Gotas de suas letras
Aquelas que cantavam
nas bocas de suas mãos
Como conchas aos nossos ouvidos
'Leva o refrão e seu corte'
Atrás dos muros, das distancias
Deliro como poeta, como amigo
No outro lado do muro, que sinto tanto
não vejo, não tenho força
Não soletro, não transpasso
Mas chora, chora
Escorre, derrama chuva
Lágrimas da partida
da minha dor no peito
Aquela que lembrará
sempre em esferográficas
estradas
Por seus lamentos
cintia thomé
Oblação
Anibal Beça
Alma que não enferruja
é aquela que se lava
nas corredeiras do longe
e vira espuma na água.
Por que o perto põe à mostra
todo e qualquer azinhavre
nódoa na dobra das horas
e não tem água que o lave.
Água dita: buena dicha
bendita de mala sorte
que a alma que embala a vida
leva o refrão e seu corte.
A receita está no tempo
que limpa todas as marcas
e cobre num véu de névoa
a culpa de toda carga.
Encoberta pela brisa
a alma nova descansa
rio que vai para o mar
lambendo o sal dessa dança.
ANIBAL BEÇA
13.9.1946 - 25.8.2009
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