Nada a fazer

Posted: domingo, 10 de maio de 2009

Nada a fazer

Por detrás das copas

Some a luz

Dia após outro

E nada podemos fazer

Se vem frio ou choro

Desconforto de papelão

Eco do ronco das tripas

Sem recheio, ocas

       Se falta abraço e sobra vazio

       Nada podemos fazer no escuro dos becos

       Na sombras estáticas

       Sob o lusco-fusco vermelhos das lanternas

Se não há teto nem estrelas

Se há sereno e chuvisco

Se água desce levando a cama

E os bueiros se enchem de pobreza

Nada podemos fazer

Se fecharam as escolas e inauguraram cadeias

Se derrubaram o cinema e abrigaram uma seita

Se arrancaram o sorriso com o último dente

Se esconderam as manhãs na penumbra dos prédios

Nada há de ser feito

       Se o arroz foi trocado por cola

       E a cola engana a fome teimosa

       E a pedra já não é só fuga, é hábito

       Se cada sentimento é camuflado

       Na dureza dos vincos precoces

       E a pele resseca e quebra na velhice adolescente

       Não há nada a ser feito.

Se a família foi trocada pelos iguais

E as paredes que cercam tem grades

Ou são as laterais do buraco raso

E a visão não segue mais que alguns passos

Até a cortina que esconde o futuro

Nada podemos fazer

Se livros nunca houveram

Nem brinquedos, papel e tesoura

Festa colorida de balões e risadas

Sonhos regados e adubados logo cedo

Afago e ensinamentos úteis além de um dia

Nada fizemos

2 comentários:

  1. Beatriz 10 de maio de 2009 às 16:53

    A noite cai e nada podemos fazer. Seu poema arrasta-me nada posso fazer.
    Você fez!

  2. Joe_Brazuca 11 de maio de 2009 às 00:42

    Sua poesia é antagônica.
    Porque preenche e esvazia concomitantemente, contrariando as leis da física, onde um corpo não ocupa o espaço de outro,ao mesmo tempo...
    Dilacera os sentidos, pois esboça em uma unica tela, a iniquidade e abundância, paradoxamente alojadas num mesmo "set"...
    São tantas mazelas, tantas favelas, tantas banguelas...
    São tantos "bistrôs", tantos "arsnovôs", tantos arlequins e "pierrôs"...

    Já não ha mangas a arregaçar diante deste arregaço...
    Nada a fazer, alem de tudo por fazer...
    e o tempo se esvai...e a velhice precoce chega com o cansaço...

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