COTIDIANO ©

Posted: sábado, 16 de maio de 2009
(...)

Começo ou esqueço + Não para de chover + As vidas vão deixando de passar + Os paralelepípedos e as onomatopeias adormeceram os passos + Há um desperdício de amor de mim + Queria alguma volta + Nada pra ver na TV + E quem disse que eu queria ver? + Cheiro de chuva é bom + Instintivamente me lava + E minha lava me escorre + Enquanto você de mim corre + Baita trovão agora engolindo tudo lá fora + Gelou a lembrança + Lembrei do meu pai + Alguém que se vai + Em mim é eterno + Preciso trocar meus óculos + Ando cega e não te vejo ao meu lado + Tem 10 pessoas online + Eu sempre sozinha + Você nunca está + Mesmo quando está + Vontade de sorvete + De morango ou Pistache + Vontade que tudo se encaixe + Tenho fome + Morro dessa fome intrínseca e intoxicante + Fome de vida que não dói + Fome de luta que se faz reconhecimento + Será que tem algo na TV que encha meus olhos de anestesias? + Preciso fazer backup + De mim principalmente + Guardar tudo o que eu fui + Eu costumava ser melhor do que eu sou + Melhor do que eu + Outro dia se finda + Ninguém me disse que sou linda + Me disseram sim que sou veneno + Amargo veneno + Doeu + Chorei minhas cicatrizes todas + As coisas são impermanentes + O acaso é aqui a qualquer instante + Faz frio + Lateja a ferida que você me abriu + Afinei o violão diferente hoje + Busco um outro som, um outro ser + Preciso compor denovo + Disfonia em moto-contínuo + Livre associação + Mas onde se escondeu inspiração? + Achei umas letras antigas + Acho que eu é que sou antiga + Queria ter conversado + Queria ter te dado o que em mim sobrou e eu abafo + Minha gata Wicca deitou do meu lado + Tudo em mim parece passado + Continua chovendo + Nada na TV + Alguém me tira esse fardo + Alguém me tira essa máscara + Alguém me tira essa roupa + Alguém me traz um café + Alguém me ama sem medo + Acho que hoje eu durmo mais cedo + Outro trovão + Aviso de explosão + Agora tudo chove + Ficou mais frio + Minha gata saiu + Vou tomar um banho + Buscar minha fonte + Dar-me algum prazer solitário e rompante + Chuva diminuiu + Meu mundo ruiu + De tanto pensar no que vou escrever acabo não pensando em nada + Saio palavras + Ensaio rimas + Melhor seria um verso em soslaio + Que dissesse ao que veio + Que não fosse tão feio + Promessas em vão + Nada mais me dá chão + Embotou o tesão + Ou é tudo ilusão + Calma! + Mais um minuto de atençao + Já chego logo ao fim + De você e de mim + Vou compensar a falta de conteúdo + Calar os meus dedos, deixá-los mudos + É tudo tão igual + É tudo tão...

O cotidiano é uma farpa infincada na sola do pé...
Febril. Inflamado!
Pronto! Conteúdo instantâneo.

Van Luchiari ©
*Texto registrado na Biblioteca Nacional.
Todos os direitos reservados ©


9 comentários:

  1. Marcos Pontes 16 de maio de 2009 às 09:07

    Me agradam as formas novas que não perdem a coesão da poesia. As frases curtas - versos horizontalizados - contam histórias diferentes de uma mesma história de abandono adulto, a contradição do amor-próprio e a falta dele, o nariz levantado e a autopiedade. É um tanto cansativo para se ler inteiro, desculpe a constatação, mas é um grande poema.

  2. Beatriz 16 de maio de 2009 às 10:12

    Van,
    Vejo aqui e nos outros lugares onde

    fala e posta suas infinitas

    tentativas de cruzar a linguagem e

    tenho muitas surpresas graças as

    inúmeras estratégias de que vc se

    utiliza. Poesia, anacronismos,

    períodos com uma ou duas frases,

    narrativas visuais e sonoras.


    Neste aqui, meu olhar percorreu a

    página à procura de letras para

    formar palavras, numa tentativa de

    interatividade visual mesmo. E os

    sinais de + me atrapalharam. Os

    caminhos do poema marcados por

    esses sinais ficaram tolhidos ao

    ponto de impedirem seguir com mais

    prazer o poema que vc construiu.

    Achei excessivos.

    Pra mim é óbvio que é o sinal de

    mais (+) estaria lá sem precisar

    ser grafado. Faz lembrar a escrita

    sem pontuação de Saramago.


    Apesar disso tudo, consegui ao

    final chegar ao tema que me parece

    ser recorrente em vc: falar do amor

    sempre e muito. E mais de dor do

    que alegria, muito mais solidão do

    que correspondência, muito mais pro

    erótico do que para o lírico.

    Muito irônica, tentando escapar do

    piegas, vc é banhada por um

    romantismo expressionista hard!

  3. Joe_Brazuca 16 de maio de 2009 às 11:58

    sua poética é uma tela expressionista que impressiona !
    Aturde, ilude, confunde e tira dos trilhos, escorrega em ladrilhos, gruda nos cílios, realça e apga nossos brilhos...

    O cotidiano é a prensa, as 5.30 da madrugada, numa rotina fabril, pão manteiga, café no funil,com ou sem estado febril ( pouco importa ao patrão, geralemente um mau ladrão...) gargalo de dinheiro pouco no fim do mês, mulher prenha + uma vez...

    Cotidiano é o operário que nunca trabalhou, nem sequer em nada se formou, foi eleito, mentiu e arrasou, roubou, deturpou...

    muito bom, mais um seu !

    bj
    ( e a animação arrepiou...)

  4. Van 16 de maio de 2009 às 15:24

    Marcos e Bea....O cotidiano é assim mesmo. Difícil, estranho, confuso... Chegar ao fim de cada dia exige esforço...
    Aqui, meu texto cumpre o papel a que se destina, dá sentido ao título.
    Cotidiano arrastado, que não passa... Se fosse fácil, não seria essa catatonia repetitiva do dia-a-dia.
    Pronto. Cumprida a missão da poesia.
    Beijos, queridos.

    JoeDemais essa animação né? Da música nem preciso dizer nada. Do teu comentário tampouco. Obrigada, baby.

  5. Van 16 de maio de 2009 às 15:25

    Ainda refletindo.....
    Algumas poesias não são mesmo de fácil digestão.

  6. Beatriz 16 de maio de 2009 às 20:16

    Van,

    não se trata disso. Digestão ou não. E sim de leitura.

    Seus mais me atrapalharam.

    Simples assim

  7. Dr. Beleléu 19 de maio de 2009 às 02:28

    Cara Compulsiva, companheira de enfermidade

    como portador de esquizofrenia afirmo que o sinal de positivo operante "certo chefia" no poema em questão é obviamente proposital. Pois trata-se evidentemente de um erro inconsciente e natural do personagem narrador, talvez quiçá um morador(a) de rua (que troca mais por mas) servindo tal sinal como processo unificador de seus pensamentos desconexos que, são o cerne do texto. Assim, tal sinal não só Não obstaculariza ou dificulta de maneira alguma a compreensão do texto como é claramente imprescindível p/o entendimento do estado psicótico e alucinado do(a) personagem narrador(a), magistralmente criado pela artista poeta.

  8. Beatriz 19 de maio de 2009 às 05:53

    Dr. Beleléu (interssante o nome. Será?! Ao beleléu leu a leitura. Mas assim, olha só:esquizofrenia é quadro pra quem PODE não pra quem quer. Deste modo reverencio sua condição esquizo, altamente valorizada na pós-modernidade. Luxos aos quais não posso atingir dada minha simples e prosaica condição de neurótica. Feliz ou infelizmente passei pela fase edípica e fui castada e, por isso, não entendo a 'lógica" esquizo. Até entendo mas não compreendo.

    o texto da Van não me parece assim como diz o nobre especialista que se auto-diagnostica e tanto explica que mais confunde meu limitado pensamento ancorado numa subjetividade neurótica. se preferir, devir neurótico.

    quem leu e se sentiu atrapalhada pelos sinais fui eu. Se ao sr/sr[a os sinais ajudaram, nortearam bom pra também.

    Saudações neuróticas (desculpe a limitação).

  9. Dr. Beleléu 21 de maio de 2009 às 04:05

    Esquenta não fia
    um dia C chega lá, como diria uma d minhas queridas médicas e "fisólofas" Dra. Epifania: d "norozis in norozis damus vortas e vortas intornu das lampidas pra chegar a ...ó lugar ninguno"

    Apesar q... quem nasceu pra neurótico pode nunca chegar à esquizofrênico

    Mas não desânime nobre companheira d confusão mental. Com vontade, esforço e dedicação tudo é possível. Se não, ao menos imaginável...

    Bjos alucinantes

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